Quando o Urban Sketchers Florianópolis expôs os desenhos dos participantes no Espaço das Oficinas de Arte do CIC (Centro Integrado de Cultura), programou também um encontro no próprio prédio na semana seguinte à da abertura. Foi uma forma de retribuir a cessão de um espaço público e também a oportunidade de atrair os visitantes da exposição.
Foi também minha chance de registrar o prédio. No dia do encontro, em novembro de 2019, saí de casa empolgado. Cidade turística e cheia de praias, Florianópolis tem seu lado cinza-chumbo: dezenas de exemplares da arquitetura de final dos anos 70 e início dos 80 em concreto aparente, a maioria prédios públicos e antigas estatais. O estilo é conhecido pelo pouco simpático nome de “brutalismo”.
O CIC, embora não tenha o visual da Assembleia Legislativa ou da antiga sede da Telesc, para citar dois exemplos, conserva alguma coisa do estilo no volume do palco do teatro, visível por quem passa pela rua de trás em frente à penitenciária, e em alguns elementos em concreto aparente, como a escada externa do teatro.
Concreto verde e vermelho
Nos anos 2000, um governador do MDB gastou o dinheiro do contribuinte para pintar todos os prédios da administração estadual com as cores da bandeira de Santa Catarina – verde, branco e vermelho. O CIC não escapou, mas ao menos as cores originais foram restauradas anos depois.
O projeto original do CIC previa uma construção maior no aterro da baía sul, onde hoje fica o Ticen (Terminal de Integração do Centro). O centro acabou sendo erguido na antiga horta da Penitenciária Estadual e inaugurado em novembro de 1982.
Renilton Roberto de Assis, em sua tese de graduação em História na UFSC, conta que na década de 1970 já se faziam planos para uma “Casa de Cultura”, um prédio onde hoje é a Biblioteca Pública de Santa Catarina, na rua Tenente Silveira. E havia também quem defendesse demolir o Teatro Álvaro de Carvalho e substituí-lo por uma sala de espetáculos mais moderna.
Busca do ângulo
No dia do encontro, chego ao CIC com meus materiais de desenho já achando que, para ter visão de toda a construção, teria de achar um ponto de vista mais afastado, preferencialmente de cima.
Alternativas? Sentar no elevado e ser atropelado ou me posicionar em frente à penitenciária, mas daí com visão só dos fundos.
Dou uma volta e encontro um lugar na saída de trás. Sossegado e escondido da molecada que esperava a sessão de cinema e a orquestra.
Cinema, peças e quadros
Conheci o CIC na escola, indo a peças infantis e exposições. Lembro de uma, logo nos primeiros anos, sobre reprodução humana, voltada a crianças. Se fosse hoje, teríamos vereadores e deputados defensores da pauta de costumes simulando ultraje para despistar o eleitorado de suas falcatruas.
Mais tarde, virei frequentador do cinema e visitante de várias exposições, além de perder a conta de quantas vezes passei pelo Café Matisse. Como muitos, senti falta da programação nos três anos em que o centro ficou fechado para reforma.
Terminado o desenho, vou fotografar o pessoal e deixo o papel sobre a banqueta. Assim que volto, vejo uma criança encostando a mão. Se não tivesse aplicado fixador, ela teria borrado o pastel seco.
— Eu acabei de passar fixador. É bom lavar a mão dela porque é tóxico. — digo para a mãe, meio para assustar.
- Pastel seco Koh-I-Noor
- Papel Marrakech mostarda 180 g/m² 33 x 48 cm
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