Caderno com desenho de uma mesa redonda com duas cadeiras, todas de metal. O caderno está rodeado por uma caneta e um suporte

Mesa e cadeiras

Entardecer de domingo é quando expira a chance de fazer algo minimamente produtivo no fim de semana. Ao menos para não ficar com aquela sensação de tempo perdido. 

Resolvo desenhar. De segunda a sexta, as ideias aparecem sozinhas, mas é só pegar o caderno que elas fogem igual a peixinhos na praia.

O entardecer está bonito e me decido pelo conjunto de mesa e cadeiras da sacada. Junto com o alto-falante da TV, foi das coisas mais úteis compradas na pandemia. No nosso outono seco e ensolarado vão ser bem usadas. Ainda é preciso de esperar. Os dias seguem quentes e úmidos, apesar de, no calendário, o verão ter terminado há uma semana. 

Trago uma banqueta da cozinha e me sento no canto da sacada próximo ao guarda corpo para ter uma distância razoável. Tenho um pouco de dificuldades em desenhar coisas muito próximas porque ocorre uma distorção na perspectiva que eu prefiro nem tentar entender. 

Termino os traços a caneta. Carol, minha mulher, se senta na cadeira oposta e eu começo a aquarelar as almofadas. 

Quase no fim, escuto uma voz na vizinhança chamar alguém com o mesmo nome que eu. Penso que não é comigo e continuo desenhando, apesar de raramente ter conhecido outros Ivans. Fim de tarde aqui na quadra é mais agitado, horário em que os moradores saem com as crianças ou com os cachorros. 

“Ivan”, repete a voz. Carol resolve olhar e vê que quem está chamando é um casal de amigos na rua lá embaixo. Em tempos normais, os convidaríamos a subirem para um café. Mas do jeito que as coisas estão, trocamos algumas palavras a quatro andares de distância e prometemos combinar algo quando a situação acalmar. Até porque não convém usar o elevador.


  • Papel: caderno Canson Art Book One A5 100 g/m²
  • Caneta tinteiro tipo “fude pen” (ponta dobrada) Jinhao x750
  • Tinta Document Ink da Koh-I-Noor
  • Aquarela Van Gogh, da Talens