A rua Conselheiro Mafra é a rua das necessidades. A Felipe Schmidt, logo acima, é a rua dos desejos.
Ambas ficam no Centro de Florianópolis. Vai-se à Felipe Schmidt para olhar relógios, óculos escuros, roupas, perfumes e calçados e, eventualmente, comprá-los. Quem vai à Conselheiro, em contraste, sai com seu destino traçado.
Precisa de uma alça para a tampa da panela? Do copo do liquidificador? Consertar o guarda-chuva? De um zíper para a bolsa?
A Conselheiro é a via do comércio especializado e popular. Por “popular”, entenda-se aquilo que todo mundo uma hora precisa. Não porque quer, mas porque o parafuso da tampa da panela decidiu que aquele era o momento de quebrar.
Patrimônio preservado
De uns dez anos pra cá, deram uma geral na rua, principalmente perto da Praça 15 e pouco antes da subida, onde ela termina. Ganhou lojas mais bonitas e continua com seus casarões do século 19, como escreve o jornalista Carlos Damião.
Um conjunto interessante, um pouco mais recente, é o das fachadas em art déco no trecho entre as ruas Bento Gonçalves e Pedro Ivo (foto acima). São ocupadas por estabelecimentos conhecidíssimos dos moradores: Tupã (embalagens), Vera Cruz, (aviamentos) Dermus (farmácia de manipulação) e 6B (papelaria).
Nem sempre foi assim. Quando eu era moleque e ia aos cinemas do Centro, cruzava a Conselheiro para pegar o ônibus de volta para casa no antigo terminal, na rua Francisco Tolentino. No caminho, passava por hoteizinhos baratos e prostitutas batendo pontos nas esquinas.
Mas a gentrificação já começou a partir dos grandes empreendimentos na parte alta. Em breve, quando precisarmos comprar uma tesoura de costura ou consertar um eletrodoméstico, não teremos opção – hamburguerias, cervejarias e empórios de importados não servirão para isso.
Então, em vez de tentar uma solução na velha rua do Comércio, seu nome antigo, teremos de substituir o item avariado por um novo. Não é assim que se faz no capitalismo?
- Pena de bambu
- Nanquim
- Aquarela em pastilhas
- Sketchbook Hahnemühle A3
Deixe um comentário