Desenho em nanquim colorido com aquarela mostrando a fachada de trás do Casarão da Lagoa, com ênfase na estrutura do telhado e no céu azul ao fundo. Em primeiro plano, barracas de artesãos

Um passeio até a Lagoa com a Companhia Ferroviária Florianopolitana

Se aqui existisse trem de passageiros, faríamos a travessia entre o continente e a ilha dentro de um vagão. Quiçá teríamos um trem-bala que parasse em São José e de lá os viajantes fariam a baldeação para a linha metropolitana até Florianópolis.

Se o trajeto fosse de manhã cedo, como seria o caso dos trabalhadores, ficaríamos olhando aqueles primeiros raios de sol interrompidos pela estrutura de metal da ponte rodoferroviária, que correria paralelamente à Hercílio Luz.

Chegando na cidade

Nossa estação central seria no terminal Cidade de Florianópolis, hoje quase abandonado. Carregadores esperariam pelos turistas com suas malas pesadas e ambulantes venderiam marmitas com opções locais como pastel de berbigão e banana recheada. Haveria lanchonetes, restaurantes e máquinas de vender bilhetes com interface em português, espanhol e inglês.

Apesar dos celulares terem a hora regulada com precisão de milissegundos pelo sistema de GPS, consultaríamos o horário dos trens nos relógios analógicos da estação. Assim como na Suíça, os daqui manteriam as mesmas especificações de tempos atrás, quem sabe com o mesmo design do exemplar inglês do Mercado Público.

O livrinho com a planilha de horários ainda seria vendido nas estações para aqueles passageiros habituados a consultar tabelas com letras miúdas.

Os funcionários

Maquinistas e condutores usariam um uniforme azul-escuro com quepe, ostentando o brasão da Companhia Ferroviária Florianopolitana. No bolso, por tradição, consultariam os horário de saída em um relógio de bolso que ficaria pendurado no painel do trem, como fazem seus colegas no Japão.

Quem não fosse descer na estação central, continuaria sua viagem pela avenida Beira-Mar até a estação seguinte, próximo ao estacionamento do Centro Integrado de Cultura (CIC). De lá, o visitante poderia ir até o prédio por uma passarela coberta e conhecer as exposições, assistir a uma peça ou até comprar trabalhos de artistas da cidade na loja do museu.

Com a implementação dos cartões com chip, restaria aos condutores o papel de verificar que todo mundo está com a passagem em dia e eventualmente cobrar de quem fosse surpreendido com o cartão descarregado.

Mantendo a ordem

Se um arruaceiro ignorante com camiseta verde e amarela tentasse entrar no vagão, o condutor imediatamente barraria o desocupado, assim como faziam seus camaradas irlandeses que se recusavam a transportar militares ingleses na década de 1920.

— O sindicato proíbe. Camiseta verde e amarela só em dia de jogo — diriam, irredutíveis. Afinal, o bem estar dos demais passageiros vem em primeiro lugar.

E o passeio terminaria na estação mais antiga da cidade, a da Lagoa da Conceição, construída em estilo inglês. É a única coisa que existe de verdade nessa história. Embora a arquitetura sugira uma antiga parada de trem, o Casarão da Lagoa, construído em 1912 e de pé até hoje, era realmente uma estação, mas de telégrafo.


  • Pena de bambu
  • Nanquim
  • Aquarela em pastilhas
  • Sketchbook Hahnemühle A3

Comentários

3 respostas para “Um passeio até a Lagoa com a Companhia Ferroviária Florianopolitana”

  1. Mary Lou Rebelo

    Que delícia de sonho!

    1. Seria uma cidade mais civilizada, não?

  2. […] da Assembleia Legislativa, o Mesc, o Instituto Collaço Paulo, o BRDE, o Museu Victor Meirelles, o Centro Cultural Bento Silvério, a Casa Açoriana, o Museu de Florianópolis Sérgio Grando e outros de que não estou […]

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