Passei os primeiros dias de 2021 confinado em um aposento de três por quatro metros. Era hora de botar ordem na mapoteca, aquele gaveteiro largo com gavetas finas que serve para guardar desenhos e mapas (daí o nome).
Fui confrontado com vinte e cinco anos de produção. O passado ia aparecendo sem aviso, folha por folha. Treinos de caligrafia, obras finais, originais de ilustrações, versões alternativas de encomendas há muito já entregues, esboços de pinturas e desenhos soltos.
Enchi dois sacos de lixo de 50 litros, daqueles azuis. Coisas que não valiam a pena guardar porque a vida é curta, o metro quadrado é caro e eu tenho alergia a poeira. Mesmo assim, boa parte da produção voltou para a gaveta.
Progresso? Nem sempre
Não nego: me surpreendi com alguns desenhos. Difícil falar em “evolução”. A gente vai, volta, muda de estilo, troca o instrumento, refina os gostos e só lá pra frente consegue ver o que tem valor.
A única constante nesse tempo foram as sessões de desenho com modelo vivo, ainda que com interrupções (na mais longa, foram dez anos). É fácil reconhecer as primeiras tentativas. O desenho é duro, as figuras parecem bonecos e há um acúmulo de linhas feitas sem pensar, como se a sobreposição fosse resultar nas formas certas.
Um ou dois meses depois, aparece uma melhora. A gente aprende a observar e a pensar antes de encostar o o lápis no papel. Mas é só dar um tempo sem desenhar que, na volta, é como retornar à academia de ginástica depois das férias. Custa para recuperar a prática.
A arrumação não foi o melhor jeito de gastar as preciosas horas de férias, mas me deu noção do que eu já fiz e ideias para frente.
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