Desenho em caneta preta sobre papel kraft marrom mostrando carros estacionados em frente a fachadas de pequenos prédios residenciais

Desenho na rua Fernando Machado

É fim de tarde de sábado no centro de Florianópolis, em frente à Faferia, espaço cultural onde espero Carol Grilo dar sua oficina de bordado contemporâneo. Abro o banco dobrável na base da escada do prédio e começo a desenhar a rua para passar as horas.

Estamos em abril de 2018, dois anos antes da pandemia. Parece que faz mais tempo, a vida era outra. Do lado de dentro da Faferia, dez pessoas se reúnem em volta de uma mesa para aprender a usar o bordado nas artes visuais. Virando a esquina na rua General Bittencourt, uma roda de samba que parecia animada já está no fim. Alguém tira os cavaletes que bloqueavam a rua, os carros voltam a circular e sobram só os vendedores de cerveja guardando as caixas e o som mecânico como trilha sonora.

Alguém estaciona o carro quase em frente. É conhecido do dono do espaço, o jornalista Fifo Lima. Agora somos três na escada. A região ainda preserva algumas casas e mesmo os prédios são residenciais. Movimento só de noite na boate adulta mais à frente.

Eles conversam alguma coisa sobre trabalho e produções artísticas. O visitante tira o conjunto de cuia, erva e garrafa térmica do carro, prepara o chimarrão e nos oferece. Recuso, sem dizer que é por desconfiança de compartilhar o canudo de metal.

Foto das fachadas dos pequenos prédios residenciais da rua com o desenho pronto em primeiro plano
O carro hatch virou uma limusine

Gosto de desenhar essas coisas que nunca aparecem nos anuários de arquitetura. Varais dobráveis, aparelhos de ar-condicionado, fios elétricos e todos essas coisas penduradas nas fachadas sabe-se lá por quem.

Tempo encoberto, mas não cinzento. De vez em quando, o sol pálido de outono aparece entre as nuvens e puxa as cores para um amarelo alaranjado. A caneta e o pincel são pretos, não é preciso mudar o desenho.


  • Caneta Uni-pin e Pentel Brush Pen
  • Papel kraft 110 g/m²
  • 24 x 16,5 cm