Antes de tudo, obrigado por acompanhar meus desenhos e textos aqui neste espaço.
Chegou a hora de lembrar das palavras, imagens e sons que marcaram o ano. A revisão ajuda a lançar um outro olhar sobre obras esquecidas. E o tempo separa o que interessa.
Para você, que me lê, espero que traga não só sugestões, mas pontos em comum e de discordância, que é assim que formamos nosso repertório.
Assim como fiz no ano passado, começo pelas HQs.
Quadrinhos
Não foi desta vez que diminuí a pilha de HQs para ler. Li só catorze álbuns em 2022, contra 22 no ano anterior. Três foram emprestados – ou seja, não contribuíram para achatar a montanha – e ainda perdi tempo lendo uma história de super-herói no Kindle Unlimited.
A seleção este ano também ficou menos variada: menos autoras mulheres e menos autores negros. Mas, ao menos, quatro álbuns são brasileiros (sendo um aqui de Santa Catarina, escrito pelo colega Romeu Martins).
Título | Autoras(es) | País |
---|---|---|
Dementia 21 | Shintaro Kago | Japão |
Olympe de Gouges | Catel Muller, José-Louis Bocquet | França |
A cor que caiu do espaço | Romeu Martins, Val Oliveira, Sandro Zambi | Brasil |
Os Beats | Harvey Pekar, Ed Piskor, Paul Buhle e outros | Estados Unidos |
Intrusos | Adrian Tomine | Estados Unidos |
A menina do outro lado vol. 1 | Nagabe | Japão |
Confinada | Leandro Assis, Triscila Oliveira | Brasil |
Incognegro | Mat Johnson, Warren Pleece | Estados Unidos |
Menina Infinito – Depois de horas | Fábio Lyra | Brasil |
O vazio que nos completa | Sergio Chaves, Allan Ledo | Brasil |
Tetralogia Monstro | Enki Bilal | França |
Daredevil: Yellowjackets | Jeph Loeb, Tim Sale | Estados Unidos |
Castelo de areia | Frederik Peeters, Pierre Oscar Lévy | Suíça/França |
Naturezas mortas | Zidrou, Oriol | Bélgica/Espanha |
Livros
Aqui, temos duas boas notícias:
- Foram vinte livros este ano, mais que o dobro dos oito de 2021.
- Quase metade é de literatura. Ler mais ficção era uma das resoluções do ano passado.
Considerando que o brasileiro lê, em média, cinco livros por mês, nas estatísticas estou sustentando três conterrâneos que não leram nada ou um punhado maior que leu pouco. Tomara que daqui pra frente possamos melhorar esses números (não os meus, mas os educacionais e econômicos do país).
2022 foi ainda o ano em que preenchi algumas lacunas, como Joan Didion, Rachel de Queiroz, João do Rio, Anton Tchékhov e Walter Benjamin. O primeiro livro da lista, uma coletânea de contos, me fez ter contato com mais escritores que eu não conhecia, entre eles Katherine Mansfield, com o maravilhoso The Garden Party.
Por outro lado, Como Cuidar do Seu Pescoço, recomendação literária da minha fisioterapeuta na categoria não ficção, permanece como um lembrete para cuidar da postura nas leituras de 2023.
O plano de resenhar livros de urban sketching andou, mas não muito: foram três títulos. Tenho o suficiente nas estantes para mais que isso em 2023.
E, como o tempo não é infinito, a quantidade de livros reduziu a de quadrinhos. Vamos ver como me saio na próxima retrospectiva.
Na lista abaixo, os títulos com link levam às minhas resenhas.
Título | Quem escreveu | Gênero/assunto |
---|---|---|
Fifty Great Short Stories | K. Mansfield, E. Hemingway e outros | Ficção, contos |
San Paolo: desenhos e prosa da cidade | Vincenzo Scarpellini | Não ficção, desenho, arte |
Trate você mesmo seu pescoço | Robin McKenzie | Saúde |
Serrote 38 | Vários | Ensaios |
New York: Lucinda Rogers | Lucinda Rogers | Não ficção, desenho, arte |
Sándor Lénárd no fim do mundo | Fernando Boppré | Literatura, biografia |
Kafka à beira-mar | Haruki Murakami | Ficção |
Giving a damn about web accessibility | Sheri Byrne-Haber | Acessibilidade, UX design |
Formas de volver a casa | Alejandro Zambra | Ficção |
The white album | Joan Didion | Jornalismo, ensaios |
O vale do fim do mundo | Sándor Lénárd | Não ficção |
100 crônicas escolhidas: uma rede, um alpendre, um açude | Rachel de Queiroz | Crônicas |
O itinerário de Ody Fraga rumo ao cinema | José Rafael Mamigonian | Tese, cinema |
A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica | Walter Benjamin | Ensaio |
A alma encantadora das ruas | João do Rio | Crônica, jornalismo |
Contos completos de Lima Barreto | Lima Barreto | Ficção, sátira, crônica, jornalismo |
A dama do cachorrinho e outras histórias | Anton Tchékhov | Ficção |
CAPS LOCK – How capitalism took hold of graphic design, and how to escape from it | Ruben Pater | Crítica, economia |
Nada me faltará | Lourenço Mutarelli | Ficção |
As coisas que perdemos no fogo | Mariana Enriquez | Ficção |
Filmes
A novidade em 2022 foi ter matado a saudade de uma sala de cinema. Foram quatro filmes, de um total de setenta, nos quais comprei o ingresso, entrei na sala e sentei na poltrona. Só não teve pipoca porque vai contra meus princípios (quem quer comer que vá a uma lanchonete).
A grande descoberta foi a diretora húngara Márta Mészáros, de quem assisti a cinco longas. Diário para minhas crianças e Diário para meus amores, os dois primeiros de uma trilogia, começam quando a personagem se separa de seus pais até o início de sua carreira como documentarista.
Noite e Neblina (Alain Resnais) e Vá e Veja (Elem Klimov) vão ficar na memória por muito tempo. Ambos mostram as atrocidades nazistas na Segunda Guerra. O primeiro é um documentário sobre os campos de concentração e o segundo uma ficção ambientada em Belarus durante a ocupação alemã.
Assisti à maioria desses títulos no Mubi (este link de convite dá trinta dias de teste em vez dos sete normais).
Título | Título original | Diretor(a) |
---|---|---|
O ataque dos cães | The power of the dog | Jane Campion |
Microhabitat | Sogongnyeo / 소공녀 | Jeon Go-woon |
Lucky Chan-sil | 찬실이는 복도 많지 | Kim Cho-hee |
Desejo e perigo | 色, 戒 | Ang Lee |
A mão de Deus | È Stata la mano de dio | Paolo Sorrentino |
Em carne viva | In the cut | Jane Campion |
So long, my son | Di jiu tianchang / 地久天长 | Wang Xiaoshuai |
O espião inglês | The courier | Dominic Cooke |
Gloria | Sebastián Lelio | |
Titane | Julia Ducournau | |
Drácula de Bram Stoker | Dracula | Francis Ford Coppola |
Milk | Andrea Arnold | |
Dog | Andrea Arnold | |
Cow | Andrea Arnold | |
Vá e veja | Иди и смотри | Elem Klimov |
Mães paralelas | Madres paralelas | Pedro Almodóvar |
Adoção | Örökbefogadás | Márta Mészáros |
Diário para minhas crianças | Napló gyermekeimnek | Márta Mészáros |
Impressão minha | Daniel Salaroli, Gabriela Leite, João Rabello | |
Diário para meus amores | Napló Szerelmeimnek | Márta Mészáros |
Nove meses | Kilenc Hónap | Márta Mészáros |
The Girl | Eltávozott Nao | Márta Mészáros |
Comets | Tamar Shavgulidze | |
Irma Vep | Olivier Assayas | |
Certo agora, errado antes | 지금은맞고그때는틀리다 | Hong Sang-soo |
Lingui | Mahamat-Saleh Haroun | |
Licorice Pizza | Paul Thomas Anderson | |
A ilha de Bergman | Bergman Island | Mia Hansen-Løve |
Malina | Werner Schroeter | |
A pior pessoa do mundo | Verdens verste menneske | Joachim Trier |
A Esposa Solitária | Charulata | Satyajit Ray |
A professora do jardim de infância | The kindergarten teacher | Sara Colangelo |
007 Contra Spectre | Spectre | Sam Mendes |
Drive My Car | ドライブ・マイ・カー | Ryusuke Hamaguchi |
Lamb | Dýrið | Valdimar Jóhansson |
O choque do futuro | Le choc du futur | Marc Collin |
Thelma | Joachim Trier | |
Antiga alegria | Old Joy | Kelly Reichardt |
Deserto particular | Aly Muritiba | |
Orgulho e esperança | Pride | Matthew Warchus |
O carroceiro | Borom Sarret | Ousmane Sembène |
Noite e neblina | Nuit te Brouillard | Alain Resnais |
Pleasure | Ninja Thyberg | |
Happy together | 春光乍洩 | Wong Kar Wai |
Casa Gucci | House of Gucci | Ridley Scott |
A tortura do medo | Peeping Tom | Michael Powell |
Medida provisória | Lázaro Ramos | |
Bye bye Brasil | Carlos Diegues | |
Ashes of time Redux | 東邪西毒 | Wong Kar-Wai |
A mulher de um espião | スパイの妻 | Kiyoshi Kurasawa |
Força maior | Turist | Ruben Östlund |
Não! Não olhe | Nope | Jordan Peele |
Joan Didion: the Center Will not hold | Griffin Dunne | |
Cycling the Frame | Cynthia Beatt | |
The invisible frame | Cynthia Beatt | |
Minha noite com ela | Ma nuit chez Maud | Éric Rohmer |
Marte Um | Gabriel Martins | |
Todos já sabem | Todos lo saben | Asghar Farhadi |
Paris, 13 distrito | Les Olympiades | Jacques Audiard |
O Conformista | Il conformista | Bernardo Bertolucci |
Love & Rockets: The Great American Comic Book | Omar Foglio, José Luis Figueroa | |
O grande mestre | 一代宗师 | Wong Kar Wai |
Argentina, 1985 | Santiago Mitre | |
Desvirtude | Gautier Lee | |
Seis mulheres para o assassino | Sei donne per l’assassino | Mario Bava |
Finalmente, domingo! | Vivement dimanche! | François Truffaut |
Cold Meridian | Peter Strickland | |
Cafi | Lírio Ferreira, Natara Ney | |
Bardo – Falsa crônica de algumas verdades | Bardo, False Chronicle of a Handful of Truths | Alejandro G. Iñárritu |
Sabor da Vida | あん | Naomi Kawase |
Música
Este ano, a quantidade de tempo pendurado no Spotify caiu em um terço comparado com o ano passado (de 46 mil minutos para 29 mil). A causa deve ter sido o retorno parcial ao escritório, que me fez tirar os fones de ouvido e conversar com os colegas.
O hábito de garimpar músicas me deu o rótulo de “viajante do tempo” na plataforma.
O fato de Max Richter ter aparecido como o artista mais ouvido deve ter sido por causa de seu álbum Sleep, que deixei tocando algumas vezes enquanto fazia outras atividades. Ele tem oito horas de duração (e foi feito para ser escutado durante o sono, como mostra este documentário sobre uma execução noturna da peça em Los Angeles).
Abaixo, os rankings da retrospectiva do Spotify:
Músicas mais ouvidas
- Take My Breath – The Weeknd
- In Your Eyes – The Weeknd
- Out of Time – The Weeknd
- On the Nature of Daylight – Max Richter, Louisa Fuller
- Harry’s Symphony – Joss Stone
Gêneros favoritos
- Reggae de raiz
- Pop new wave
- MPB
- Internacional
- Funk
Artistas mais ouvidos
- Max Richter
- The Weeknd
- New Order
- Bernard Herrmann
- Depeche Mode
Resolução
Uma das metas do ano passado era reduzir o tempo em redes sociais para ter mais tempo para os livros e filmes. Foi uma resolução fracassada, mas já configurei limitadores de tempo no celular para Instagram e afins. Se esta lista de obras aumentar em 2023, significa que fui bem sucedido.
Ano que vem, penso que em vez de uma retrospectiva completa como esta, seria melhor um apanhado só dos melhores. Ou dos melhores e piores, que rende piadas.
Ou ainda, gráficos que mostrem as tendências nesse conjunto de obras, se é que há alguma. Uma coisa que percebi é que não costumo me fixar em gêneros ou estilos.
E você? O que viu de interessante em 2022?
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