Desenho mostrando um deck em primeiro plano com pedras de tamanhos variados ao fundo, por onde se vê parte do mar e o céu

De onde vêm esses topônimos?

Nós, que descendemos de gente vinda de outros terras, parecemos querer confundir as pessoas com os nomes que damos aos lugares.

Em Canasvieiras, que é bairro e nome de praia, não há canaviais. Quem sabe, barraquinhas de caldo de cana. Nos Ingleses, ainda no norte da ilha, é bem mais provável topar com um portenho daqueles que trocam o “j” pelo “ch”. Não me lembro de ter visto limoeiros no Saco dos Limões e, nas minhas andanças pelo Pântano do Sul e pelo Pantanal, nunca afundei meu pé no lodo. Considero o Estreito relativamente espaçoso e o curso d’água que atravessa o Córrego Grande não é dos maiores. E quem quiser comer coco em Coqueiros é melhor que vá ao supermercado ou à feira.

Também temos os apelidos, que confundem até moradores antigos. O Banco Redondo, no ponto mais alto da avenida Mauro Ramos, até hoje faz os recém chegados procurarem por uma agência bancária onde só existe um assento circular de concreto. Mais misteriosa ainda é a Rua do Banco, oficialmente rua Acadêmico Reinaldo Consoni, que, além de não contar com a comodidade de um terminal bancário, tampouco oferece lugar para sentar. O nome Trevo da Seta homenageia uma única placa de via preferencial entre tantas outras centenas que talvez merecessem a mesma imortalidade.

Compare com a precisão e imparcialidade dos nomes indígenas: Jurerê (boca d’água pequena), Itacorubi (rio das pedras esparsas) e Itaguaçu (pedra grande). O nome e a geografia bastavam e eram uma coisa só.

E é na praia de Itaguaçu que as duas visões de denominação geográfica se encontram. Na década de 1970, ela foi dividida e o novo pedaço passou a ser conhecido como Praia das Palmeiras. Mas continua óbvio a quem caminha ali que o nome mais antigo é por causa das pedras, algumas com mais de três metros de altura, que se espalham pela água e pela areia. Elas são muito mais numerosas que as dez ou onze palmeiras espaçadas na orla da nova praia. Conta-se que na verdade são coqueiros. O lugar foi batizado por um morador que, professor de administração, confundiu as árvores.

Arrisco dizer que os carijós teriam acertado essa.


Sobre o desenho

Registro feito no 90º encontro do Urban Sketchers Florianópolis que, dessa vez, não teve tema urbano.

  • Caneta tinteiro Jinhao x750 com ponta dobrada (fude nib)
  • Tinta Koh-I-Noor Document Ink preta
  • Waterbrush Pentel
  • Aquarela Van Gogh em pastilhas
  • Sketchbook Hahnemühle A4 140 g/m²

Comentários

2 respostas para “De onde vêm esses topônimos?”

  1. Antonia Rosa Maciel Ribeiro

    Amei o texto e o desenho, maravilhoso, cada um melhor que outro, parabéns!

    1. Obrigado pela visita, Antonia! Vais desenhar neste sábado?

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