Em primeiro plano, caderno com desenho da fachada do ginásio. Ao fundo, o ginásio verdadeiro, com as colunas triangulares

O dia em que conheci o Instituto

Entrei no Instituto Estadual de Educação duas vezes na vida. Na primeira, para prestar o Enad no fim da faculdade. Na última, há quase dez anos, para fazer uma pesquisa sobre um aparelho destinado a estudantes cegos para meu trabalho.

Naquele dia, eu e um colega cruzamos a entrada principal carregando dois protótipos do dispositivo, câmera, tripé e pranchetas, e subimos a grande rampa, passando pelas passarelas até chegar à sala dos professores.

Eu iria me perder se estivesse sozinho. O Instituto é considerado a maior escola pública da América Latina, com cerca de cinco mil estudantes distribuídos em vinte mil metros quadrados. Meu colégio era do outro lado da cidade e por isso eu transitava pouco por essa parte do Centro.

Prédio é exemplo do período modernista da arquitetura catarinense

Uma das professoras avisa que o aluno que fará a atividade talvez fique sem jeito. A pesquisa, um teste de usabilidade, consiste em lhe pedir que faça algumas tarefas enquanto vamos anotando qualquer coisa que dificulte o uso. Já estamos acostumados e avisamos que a pesquisa pode ser interrompida se ele quiser.

O estudante chega, acompanhado da professora. É um guri de uns 16 anos, mais alto que eu, articulado e curioso. Durante o teste, ele pergunta sobre as funções do protótipo que levamos e compara-o com o notebook, que usa através de um leitor de tela. Chega a dar sugestões e afirma que quer fazer Ciências da Computação depois de se formar no colégio.

O ginásio Rozendo Lima aí do desenho é parte do complexo do Instituto. Registrei-o no final de uma tarde de inverno de 2018, sentado em um banco gelado com o caderno apoiado em uma mesa de xadrez banguela na avenida Hercílio Luz. No final, já estava tremendo de frio. Tirei a foto e fui embora, mas com vontade de organizar um encontro do Urban Sketchers dentro do colégio. Em temperaturas mais amenas, de preferência.

Assim não há Kasparov nem Deep Blue que vença uma partida

Há um par de anos, assisti a uma palestra de um desenvolvedor, também cego, sobre inclusão na área de software e lembrei do rapaz do teste. A essas alturas, ele já deve ter se formado e, quem sabe, ganhando o próprio dinheiro fazendo o que gosta.


  • Caneta tinteiro Lamy ponta média
  • Pincel tipo waterbrush
  • Caderno Canson Art Book One A5 100 g/m²