Devo ter entrado na nesse casarão no fim da rua Esteves Júnior só uma vez na vida. É uma padaria chamada Padoka. Cheguei lá de shorts e camiseta suada depois uma corrida na avenida Beira-Mar. Interpretei que enfrentar dez quilômetros com o coração na boca me dava um salvo-conduto para atacar um pão de queijo, uma cuca de banana e uma xicrinha de espresso.
Nem sabia que, até 1992, quem atravessava a porta encontrava um típico boteco, daqueles com pinga, cerveja, pão com salame e, suponho, refrigerante para a molecada do colégio de padres ali perto. Era conhecido como bar do Katcips, sobrenome do proprietário Agapito, descendente de gregos que comandou o lugar por quarenta anos depois de tê-lo recebido de seu pai, que fundou o bar na década de 1920. Tivesse ficado aberto mais uns cinco anos e eu poderia tê-lo frequentado, apesar de não morar no Centro.
O desenho
Foi a arquitetura do casarão e a praça Esteves Júnior em frente que fez o Urban Sketchers Florianópolis escolher o lugar para o 46º encontro em setembro de 2019. Foram quarenta participantes, o recorde até hoje.
Encontrei amigos, me perdi nas conversas e sobrou pouco tempo para desenhar. Não reclamo: gosto de rever o povo, faz parte do programa.
Sentei (mas não dormi) na praça e peguei o casarão de ângulo. Aproveitei o papel grande para usar um tira-linhas da Dreaming Dogs. É um instrumento criado para a caligrafia, mas cujo traço imprevisível e irregular tem me dado bons resultados também no desenho.
Escolher o lugar do costumeiro café depois do encontro foi fácil. A padaria estava aberta, só um pouco cheia. Bom que, apesar do boteco ter sumido, pelo menos não virou uma farmácia de rede.
- Tira-linhas Dreaming Dogs nº 6 “Lollipop”
- Nanquim japonês (sumi) diluído em água
- Papel de aquarela 57 x 38 cm
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