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A quem recorro quando a bicicleta dá problema
Vou andando ao trabalho depois das férias de fim de ano e vejo a bicicletaria do Valdir fechada. Cena improvável. Quem passa pela rua sabe que as dezenas de bicicletas do lado de fora esperando a vez de serem consertadas são uma visão tão certa quanto o muro de pedra onde ficam apoiadas. Era essa…
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Sobre a maldade aparente
O cartaz original do filme Monster é enganoso. O título, juntamente com a foto de dois guris com os rostos sujos de algo que parece sangue, dão a impressão de cenas violentas. E, já tendo visto outros dois títulos do diretor Hirokazu Kore-Eda, sabia que seria tudo muito sério. De suas outras produções, tive uma…
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Como manter o nível
Levou quase quatro anos para eu assistir a essa produção mais recente do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg. Conheci seu trabalho com o tenebroso Festa de Família, que foi o primeiro filme a seguir o Dogma 95, manifesto que proibia trilha sonora, iluminação artificial, entre outros artifícios. Depois, vi A Caça, que tem dois dos atores…
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A retrospectiva de uma vergonha
Tem uma parte no documentário 8/1 – A Democracia Resiste que seria patética se não fosse sintoma de algo mais grave. A cena ocorre mais ou menos na metade do filme, quando a polícia do exército forma uma barreira impedindo que a polícia militar do Distrito Federal entre no acampamento dos bolsonaristas para prendê-los. Um…
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Um cartaz para o primeiro filme de 2024
Primeiro de janeiro costuma ser o dia mais parado do ano. As ruas ficam estranhamente vazias e comércio nenhum abre. É uma boa hora para rever um filme sem compromisso: Drugstore Cowboy, de Gus Van Sant. Parecia que eu estava assistindo pela primeira vez essa produção que vi perto do lançamento, há uns 35 anos.…
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Neste 2024…
Que sempre haja tinta para você fazer o que quiser. Desenho ou texto, ficção ou reportagem, prosa ou poesia, natureza-morta ou caricatura, memória ou devaneio, lista ou relato. Com a caneta ou com o teclado, no papel ou na tela. Para o mundo inteiro ver ou para você rasgar em seguida. Com tintas de todas…
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Exposição coletiva mostra o impossível esgotamento de um corte
Impossibilidade de Esgotamento é a exposição que eu e mais trinta artistas abrimos no próximo sábado, 16/12, no Centro Cultural Veras. Impossibilidade de Esgotamento também é o nome do grupo de estudos que a pesquisadora e artista visual Kamilla Nunes vem conduzindo desde 2022 no Ateliê de Artes Visuais Ilca Barcellos. Me inscrevi em agosto…
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Uma exposição difícil
Carol Grilo e eu tínhamos um grafiteiro preferido nos anos 2000. Reconhecíamos seu traço e suas criações, que pareciam monstros com partes de insetos e outros animais. Só não sabíamos quem era o autor. Até o dia em que Marina Baldini, proprietária da antiga Cor Galeria de Arte, nos disse o nome: Noia. Nunca o…
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Taça cheia, lugar sobrando
O senhor na mesa em frente enfrenta uma taça de vinho igual à minha: cheia até a borda. A culpa é toda do garçom, o que diminui minha culpa por ter pedido álcool em vez de suco de laranja ou água mineral. Se nesse ritmo o velho chegou aos seus prováveis oitenta e cinco anos,…
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Do Senadinho às capinhas de celular
O café Ponto Chic iria completar dez anos quando o desenhista e pintor Hassis entrou ali, escolheu um lugar nos fundos e desenhou o estabelecimento. Era 1957 e os frequentadores estavam no balcão, de chapéu, paletó sobretudo e gravata. Nas mãos, xícaras de café. As únicas mulheres no desenho são as quatro funcionárias de uniforme.…
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Vinte artistas interpretam Hassis em exposição e livro
Lá em janeiro, recebi um convite da escritora, ilustradora e arte-educadora Monique Fonseca para participar do projeto Hassis, Seus Amigos e Eu. A proposta foi mergulhar no acervo do artista, escolher uma obra e reinterpretá-la. Uma só obra? Hassis (Hiedy de Assis Corrêa, 1926-2001) deixou milhares de pinturas, desenhos e esculturas, além de fotografias, cartazes,…
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Antes que a velha rodoviária desapareça
No final de 1976, um casal de arquitetos com um bebê de colo veio de São Paulo em um Fusca vermelho para se mudar definitivamente a Florianópolis. Ela, minha mãe, tinha 28 anos. Meu pai estava prestes a fazer 31. Só nos anos seguintes iríamos pegar ônibus na antiga rodoviária, entre as avenidas Mauro Ramos,…