Desenho a traço, em preto e branco, com grandes manchas de nanquim diluído em água, de uma construção de dois pavimentos. A estrutura de vigas e colunas metálicas é aparente. No andar de cima, há uma sacada com uma pessoa. A parte de baixo está vazia. Há uma sala fechada e um espaço aberto.

Festa junina no sertão (do Córrego)

Inverno é a época em que convidamos os amigos para ir à festa junina da Associação dos Moradores do Sertão do Córrego Grande, a Amosc. Mesmo com frio ou toró, enfrentando um quilômetro e meio de caminhada e sessenta metros de elevação.

Este ano, a temperatura estava amena e não choveu. O quentão e o chope têm preços justos, a comida é boa e o povo do bairro está todo lá. O destaque foi o bolo de milho com cobertura de goiabada, mas a canjica e o entrevero também estavam bons.

O arraial acontece na praça em frente ao pavilhão comunitário. Quem chega ali em cima se surpreende com o projeto e o tamanho da sede. Nem a Associação dos Moradores do Jardim Albatroz, nem o Conselho Comunitário do Córrego Grande, ambos na mesma região, dispõem de instalações assim.

Fachada do pavilhão comunitário da Associação dos Moradores do Sertão do Córrego Grande, com paineis e madeira e estrutura metálica aparente. Em frente, gramado da praça
Fachada frontal do pavilhão comunitário. Portão no painel de madeira abre o palco para a praça

Os recursos vieram de um termo de ajuste de conduta (TAC). Foi o mecanismo que o Ministério Público de Santa Catarina usou para que as construtoras compensassem a ocupação irregular na antiga fazendinha, em frente ao supermercado Imperatriz. Assim foram viabilizados também o parque linear e a praça do Jardim Albatroz, que hoje são cinicamente incluídos nos lançamentos imobiliários como um diferencial.

O pavilhão comunitário, projetado por César Floriano e Evandro Andrade, com paisagismo de Juliana Castro, foi selecionado para a 10ª Bienal Ibero-americana de Arquitetura e Urbanismo (BIAU), realizada em São Paulo em 2016. Dentro, há um palco que também se abre para a praça, além de biblioteca, salas de aula e um espaço multiuso.

Participantes do encontro do URban Sketchers Florianópolis agrupados para a foto, segurando seus desenhos. Estão em frente ao portão principal do pavilhão da Amosc
Participantes do 41º encontro do Urban Sketchers Florianópolis em frente ao portão principal do pavilhão comunitário

Conheci o projeto há seis anos, quando o povo do Urban Sketchers Florianópolis se reuniu no lugar. Foi o recorde de público na época: quarenta pessoas. No final, Floriano, que é morador da região, apresentou o projeto e depois descemos até o parque linear para um piquenique.

Existe uma impressão de que a arquitetura contemporânea é mais fácil de desenhar que os prédios antigos, mas não é bem assim. Antes do modernismo, as construções tinham muitos ornamentos, mas a estrutura era simétrica e os elementos se repetiam: meia dúzia de janelas alinhadas em intervalos regulares, uma ou duas portas separadas por igual quantidade de janelas e uns poucos detalhes mais complicados. Uma vez que você entenda a estrutura, boa parte do desenho está resolvida.

Fundos do pavilhão comunitário com elementos metálicos com grades de madeira. Ao fundo, uma quadra polivalente de cimento
Fundos do pavilhão comunitário

A sede da Amosc, por outro lado, tornou minha vida mais difícil: tem vários planos, a estrutura é aparente, os ângulos nem sempre são de noventa graus e o lado que peguei tem grades.

Enquanto desenhava, uma molecada na quadra jogava futebol e falava muito palavrão, como é próprio da idade e desse esporte. Os moradores usam o espaço, pelo jeito.

Fiz o registro com um tira-linhas, material de caligrafia que venho experimentando há alguns anos. Dá um traço expressivo à custa do controle sobre como o nanquim se espalha.

Terminada a sessão, tiramos a foto coletiva e fizemos uma breve exposição das obras. Alguém, que não lembro quem foi, olhou meu desenho de ponta-cabeça e disse que ficou bonito.


Sobre o desenho

Arte feita no 41º encontro do Urban Sketchers Florianópolis em uma tarde ensolarada e fria de um sábado, 25 de maio de 2019.

O desenho agora está na orientação correta.

  • Tira-linhas Dreaming Dogs nº 6
  • Nanquim tipo sumi diluído
  • Papel Canson Montval A3 300 g/m²

Para saber mais sobre o projeto, leia este artigo da jornalista Letícia Wilson no ArqSC.

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