O muro comprido que cerca os fundos do Instituto Estadual de Educação dá de frente para construções bem esquisitas. Uma delas é o prédio da Diretoria de Saúde do Servidor, na esquina da rua Major José Augusto de Faria com a Fernando Machado.
Só dá para saber o que funciona lá dentro por uma placa na única porta externa. As janelas do andar térreo são gradeadas, de vidro canelado, e ficam acima da linha de visão.
Mas fui conquistado pelo discreto charme brutalista dos frisos verticais em alto relevo que seguem a esquina arredondada. Lembra um motor elétrico colocado em pé. Fora esse detalhe, se parece com uma repartição qualquer.
Sem café
É sábado, a rua está deserta. Lá pelas tantas, passa um casal de meia idade. Eles param na esquina oposta à da Diretoria e percebem uma outra construção estranha. A fachada, toda pintada de preto, é decorada por colunas falsas de dois estilos diferentes. No topo, um frontão de tamanho desproporcional segura o luminoso.
A placa diz que é um café, mas está fechado. A mulher se dirige a mim e eu levanto a cabeça do caderno.
— Com licença. Sabe se esse café abre hoje?
Algo no tom da pergunta me dá a impressão de que eles realmente pensam em sentar e pedir um espresso com pão de queijo. Estou achando que são de fora ou não costumam vir para esta parte da cidade. Sem saber seu sistema de crenças e valores, tento outro eufemismo:
— Isso aí na verdade é uma casa noturna adulta – respondo. Como se existissem casas noturnas infantis, penso em seguida.
A mulher ignora o ridículo do termo, examina de novo a porta de vidro escuro e os detalhes extravagantes, e solta uma risada.
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