No 70º encontro do Urban Sketchers Florianópolis, arrisquei desenhar na rua. Só que, diferente do casarão anterior, que ficava numa ruela pouco frequentada, o de hoje está plantado na rua Presidente Coutinho, uma daquelas vias de Florianópolis entre o centro e Beira-Mar cheia de prédios residenciais e comerciais, clínicas, padarias e uma galeria de arte.
Levo pouco material para evitar indecisão e poder desenhar em qualquer lugar: três lapiseiras 5,6 mm com grafites de cores diferentes, uma caneta tinteiro e o caderno de papel kraft. Saio preparado para voltar de mãos abanando caso haja muita gente na rua.
O casarão, de número 244, está espremido entre dois prédios, o que pode ser um dos motivos dele não ter ido abaixo. O terreno é pequeno para um edifício de apartamentos ou de escritórios. Também deve ter ajudado o fato dele abrigar uma entidade religiosa.
A arquitetura é interessante justamente pela estranheza. É de estilo neocolonial, com excentricidades como a torre cilíndrica e as colunas salomônicas. As águas no telhado e a grade de ferro, esta uma adição dos tempos atuais, dão trabalho de desenhar.
Encosto-me em pé na mureta de uma construção e sou ignorado pelos pedestres. Melhor assim. Gosto de conversar com os moradores, mas a pandemia ainda corre solta e o covidômetro da prefeitura acaba de voltar ao estado vermelho, “Gravíssimo”.
Termino em pouco mais de uma hora, com o braço esquerdo dolorido de segurar o caderno de quase um quilo e com frio, que o sol já se põe.
Enquanto esperamos o cineasta Marco Martins, da Vinil Filmes, começo outro desenho sentado dentro do carro, com música e um pouco de conforto, ainda que o volante deixe pouco espaço para o caderno.
Depois que Martins chega, conversamos na rua sobre os assuntos do dia: a série de documentários que a Vinil acaba de produzir para a TV Alesc retratando o movimento Urban Sketchers Florianópolis, Covid-19, política e como estamos passando este ano de confinamento forçado (com revolta e saco cheio, como todo mundo).
Para quem estava receoso de sair de casa, foi uma tarde produtiva. E é bom saber que tem áreas do Centro que ficam vazias no fim de semana.
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