Aviões deveriam encurtar viagens. Não dependem de estradas tortuosas, não param para os passageiros comerem misto quente, não enfrentam pedágios nem fazem pinga-pinga nas rodoviárias. Mas não há eficiência que resista a normas, procedimentos e um feriado.
No dia depois do réveillon de 2020, lá estou no aeroporto de Guarulhos para embarcar em uma rota de turistas: São Paulo a Florianópolis. Meu turismo, no caso, foi em São Paulo. Eu estou voltando para casa.
Atraso, filas, caras aborrecidas (a minha, inclusive), crianças impacientes e pais sem paciência. A cada meia hora, a voz no alto-falante empurra o embarque para mais tarde. Tiro o caderno da bolsa. Desenhar vai me distrair da espera.
Começo pelos passageiros no saguão de embarque. Vejo algumas pessoas com fones de ouvido, quase todas no celular, outras esparramadas dormindo. De costas para a parede, tento ser discreto, mas nem precisa. Os aplicativos absorvem toda a atenção.
Finalmente entro no avião, mas não é desta vez que vamos decolar. Nem adianta tentar dormir para ser acordado com o avião chacoalhando na pista, por isso arrisco um último desenho. A mão está bem aquecida depois de preencher duas páginas na sala de espera. O registro do interior do avião flui rápido – é a única coisa que sai depressa nessa noite.
- Caneta tinteiro Duke 209 com ponta estilo “fude”
- Pincel waterbrush
- Tinta preta Pelikan Fount India (não é à prova d‘água)
- Caderno Canson Art Book One A5, 100 g/m²
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