Aviões deveriam encurtar viagens. Não dependem de estradas tortuosas, não param para os passageiros comerem misto quente, não enfrentam pedágios nem fazem pinga-pinga nas rodoviárias. Mas não há eficiência que resista a normas, procedimentos e um feriado.
No dia depois do réveillon de 2020, lá estou no aeroporto de Guarulhos para embarcar em uma rota de turistas: São Paulo a Florianópolis. Meu turismo, no caso, foi em São Paulo. Eu estou voltando para casa.
Atraso, filas, caras aborrecidas (a minha, inclusive), crianças impacientes e pais sem paciência. A cada meia hora, a voz no alto-falante empurra o embarque para mais tarde. Tiro o caderno da bolsa. Desenhar vai me distrair da espera.
![Página dupla de caderno com desenhos de passageiros no celular, conversando e com fone de ouvido](https://ivanjeronimo.com.br/wp-content/uploads/2021/04/2020-01-02-aeroporto-guarulhos-sketchbook-1024x797.jpg)
Começo pelos passageiros no saguão de embarque. Vejo algumas pessoas com fones de ouvido, quase todas no celular, outras esparramadas dormindo. De costas para a parede, tento ser discreto, mas nem precisa. Os aplicativos absorvem toda a atenção.
Finalmente entro no avião, mas não é desta vez que vamos decolar. Nem adianta tentar dormir para ser acordado com o avião chacoalhando na pista, por isso arrisco um último desenho. A mão está bem aquecida depois de preencher duas páginas na sala de espera. O registro do interior do avião flui rápido – é a única coisa que sai depressa nessa noite.
- Caneta tinteiro Duke 209 com ponta estilo “fude”
- Pincel waterbrush
- Tinta preta Pelikan Fount India (não é à prova d‘água)
- Caderno Canson Art Book One A5, 100 g/m²