Livro “Arquivos da Prisão”. Capa traz com foto do casal Eglê Malheiros e Salim Miguel na faixa dos 40 anos. Título e nome dos dois escritores estão sobrepostos à foto

Livro documenta resistência do casal Eglê Malheiros e Salim Miguel durante ditadura

Poderia ter sido hoje, mas foi há 61 anos.

Em 3 de abril de 1964, dois dias depois do golpe militar, cidadãos invadiram a livraria Anita Garibaldi, ao lado da Praça XV de Novembro, em Florianópolis, saquearam os livros e os queimaram na rua.

Tela de tablet com vários imóveis desenhados, perto de nomes de pincéis digitais, como “crisp inker“, “tinta seca”, etc
Esboços ligeiros para testar pincéis digitais no Procreate

O ataque à loja, fundada na década de 1950 por Salim Miguel, escritor, e Armando Carreirão, advogado, não foi uma ação isolada. Salim havia sido preso um dia antes. A escritora, advogada e educadora Eglê Malheiros, sua esposa, poucos dias depois.

Como se não bastasse prendê-los, como nítido cerceamento ao trabalho intelectual desempenhado pelo casal, expurgaram suas carreiras profissionais e queimaram livros em praça pública, remontando ao passado de sinistras fogueiras inquisitoriais e nazistas.

Ricardo Machado

Hoje, quem passa pelo número 111 da Praça XV de Novembro, onde está a loja Marisa, desconhece esses eventos que o historiador Ricardo Machado reuniu no livro Arquivos de Prisão: Eglê Malheiros e Salim Miguel (Editora Humana). O primeiro lançamento é nesta sexta-feira, 4 de abril, na Udesc, mas a edição já está em pré-venda.

prancheta com tablet, teclado ao lado, caderno, impressão do mapa e várias canetas e lápis
O mais difícil vem antes: primeiro o Palácio Cruz e Sousa, depois o café Ponto Chic

A obra apresenta ao público documentos produzidos no contexto da repressão exercida pelo governo militar bem como, posteriormente, os processos de anistia e de escrita de Salim Miguel que, em sua obra, deixou importante relato sobre este período.

mesa onde estão dispostas duas impressões do mapa simplificado de Florianópolis e de parte do continente, com algumas ruas e números indicando pontos de interesse. Sobre as impressões, uma guia de cor e uma caneta
Avaliação dos tons de cinza com ajuda de uma escala impressa

Para situar os fatos no tecido urbano de Florianópolis, tive o privilégio de contribuir com um mapa. Desenhei-o a partir de fotografias. Entre prédios de estilo eclético do século 19 e quartéis de meados do século 20, estão lá a antiga livraria Anita Garibaldi, o café Ponto Chic e o Palácio Cruz e Sousa.

Foto do livro aberto mostrando mapa com pequenos desenhos de prédios e na parte de baixo a localização desses imóveis em Florianópolis
Mapa mostra locais pelos quais passaram Eglê e Salim no período da prisão

PS: não exagero quando escrevo que o atentado à livraria poderia ter ocorrido nos dias atuais. Hoje mesmo, a sessão de debate sobre o filme Sem Chão (no Other Land) teve de ser cancelada pelo cine Paradigma “frente às inúmeras manifestações de ódio recebidas”. A produção registra a opressão que os palestinos sofrem de colonos e das forças armadas israelenses, e ganhou o Oscar na categoria documentário deste ano.


Serviço

Arquivos de Prisão: Eglê Malheiros e Salim Miguel
Organizador: Ricardo Machado
Coordenação editorial: Fernando Boppré
Capa, projeto gráfico e editoração: Tina Merz
Revisão: Denize Gonzaga
Edição: Editora Humana
140 páginas
17 × 24 × 2 cm
ISBN: 978-65-83598-00-4

Lançamentos

1) Florianópolis: 4 de abril de 2025, sexta-feira, às 14h, no Auditório Tito Sena, na Faed/Udesc. Mais informações

2) Chapecó: 12 de abril de 2025, sábado, às 14h, no Café Brasiliano, ao lado da Humana Sebo e Livraria

3) Florianópolis: 24 de abril de 2025, quinta-feira, às 18h, na Câmara Municipal de Vereadores de Florianópolis, com a participação do organizador, Ricardo Machado e do vereador Afrânio Boppré

Comentários

6 respostas para “Livro documenta resistência do casal Eglê Malheiros e Salim Miguel durante ditadura”

  1. Sempre muito orgulhosa do seu trabalho 🙂 Irei!

    1. Iremos! E dia 24/4 vai ser na Câmara de Vereadores.

  2. Salve, Ivan!

    Apenas um relato para reforçar sua impressão: naquele fatídico 7 de setembro do último governo fascista brasileiro (dentro os tantos que tivemos), nossa livraria foi ameaçada, incluída em uma lista maldita na cidade de Chapecó (“lojas que você não deve comprar”) e realmente estávamos aflitos com o desenrolar dos fatos…

    Obrigado pela arte, estamos felizes demais com o resultado final do livro com sua participação!

    1. Lembro desse episódio, realmente lamentável. Além do português ruim, acredito que muitas dessas ameaças são só bravata de desocupados. Mas, claro, eu sigo boicotando empresas bolsonaristas.

      Foi um prazer fazer o mapa! Adoro trabalhar em projetos editoriais e agradeço muito o convite. Já estou com minha edição em mão e, como sempre, o conteúdo e a edição são de primeira qualidade.

  3. francisco da silva santos

    Salve, Ivan!

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