Dizem que há um espaço no céu para o bom cristão. Para vagas no estacionamento da igreja, porém, não há reza, donativo ou penitência que ajude.
Um carro sobe no terreno elevado da igreja São Francisco de Paula, no bairro conhecido como Canajurê, e estaciona na última vaga. Uma placa em frente avisa que ela é reservada ao padre. Dentro do carro, em vez de um homem, vejo uma mulher.
Entre o papa ter autorizado o sacerdócio feminino e a motorista ter achado que o padre não se importaria em andar um pouquinho, vou pela segunda opção.
“Deus ajuda quem cedo madruga”, já diz o ditado, e logo um casal que chegou antes e conseguiu acomodar o veículo ao lado da vaga do pároco alerta a mulher que seria melhor ela procurar outro lugar.
Já ouvi que Deus fecha uma porta, mas abre uma janela. É verdade: a poucos metros dali, ela encontra um espaço do tamanho exato, bem em frente ao portão principal desse patrimônio histórico tombado de 1833.
Tudo perfeito se ela não olhasse para o outro lado da rua e visse duas dezenas de desenhistas retratando a igreja. E bastante descontentes em ter a visão da construção divina bloqueada por um produto do engenho humano.
“Deus escreve certo por linhas tortas”, mas só aqueles que usam lápis podem contar com a borracha para apagar o que o carro escondeu. Para quem usa tinta, não há santo que salve.
Sobre os desenhos
- Tira-linhas Dreaming Dogs nº 5 (“Leeloo”)
- Nanquim tipo sumi
- Papel A3 Hahnemühle Veneto 325 g/m²
- 30 × 40 cm
- 16 de julho de 2022
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