Lá se vão seis anos do dia em que desenhei na freguesia de Santo Antônio de Lisboa, no norte da ilha de Florianópolis. Foi minha segunda participação em um encontro do Urban Sketchers (a primeira, três semanas antes, foi na Feira de Artes de Florianópolis).
Era uma tarde de sábado de inverno, quase sem nuvens, e o lugar estava cheio de visitantes. As poucas pessoas que pararam para ver o que estávamos fazendo logo seguiam em frente.
Daria para encher o caderno com o casario histórico, mas retratei uma só construção: a igreja Nossa Senhora das Necessidades, de 1756.
A arquitetura parece simples comparada com as das igrejas barrocas de Ouro Preto, por exemplo, mas foi só começar a desenhá-la para os adornos aparecerem: a moldura concêntrica da janela frontal redonda, os arcos acima da porta principal, os dois pináculos no telhado e a pequena torre que guarda o sino, à direita.
E, para dificultar, há a desagradável adição moderna a qualquer cenário histórico: o automóvel.
Sou daqueles que desenham até cesto de lixo e fio de poste, mas os carros tem o agravante de cobrirem a vista e de serem, afinal, móveis. Num instante, eles aparecem bem na frente do detalhe que você está retratando. Noutro, depois que você resolve enfim registrá-los, aparece o motorista para levá-los embora.
Mas continuo seguindo o conselho do sketcher alemão Felix Scheinberger, que, em seu livro Sketchbook sem Limites, diz que os carros, assim como placas e luminosos, representam nosso tempo atual.
Por mim, tomara que esse tempo atual, em que se permite o trânsito em locais históricos, fique pra trás.
PS: o título deste post é uma referência à música Atropelamento e fuga da banda Skowa e a Máfia.
Sobre os desenhos
Em papel branco, vertical:
- Pena de bambu
- Pincel japonês tipo fude
- Nanquim
- Sketchbook Hahnemühle A3
- 27 de agosto de 2016
Em papel kraft, horizontal:
- Caneta tinteiro Lamy Safari
- Sketchbook caseiro com papel kraft 110 g/m²
- 32 × 24 cm
- 17 de julho de 2021
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