Desenho a lápis da agência central dos Correios em Florianópolis

Quem coleciona selos alguma coisa aprende

Na infância e início da adolescência, enquanto meus amigos saíam de bicicleta pelo bairro ou ensaiavam as primeiras voltas com o carro dos pais como recompensa por tê-los lavado, arranjei um passatempo excitante: colecionar selos.

O hobby devia ser tão comum que a agência central dos Correios, bem em frente à Praça 15 de Novembro, tinha um setor de filatelia que vendia selos comemorativos, emitidos para celebrar uma data ou personalidade. Alguns vinham fixados em um folheto explicativo da emissão, outros eram agrupados em uma cartela. Todos levavam um carimbo especial.

Observando aqueles papeizinhos coloridos, aprendi algumas coisas. Por exemplo, o nome dos países em sua própria língua. “Magyar” para os selos da Hungria, “CCCP” era União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em cirílico e “Umm Al Qiwain” identificava um dos emirados árabes. Identificando um par de ideogramas, conseguia até diferenciar os selos japoneses dos chineses. Habilidades que me foram úteis para o resto da vida, como você pode imaginar.

Também comecei a identificar que os países mais ricos faziam os selos mais feios. Os da Inglaterra e Bélgica eram pequenos retângulos impressos em uma só cor com a efígie da realeza cercada de ornamentos. Na Itália e EUA, substituíam os monarcas pelo símbolo da república ou por retratos de ex-presidentes.

Selos da Mongólia, Inglaterra, Brasil e EUA
Achados da coleção: selo da Mongólia sobre a conquista espacial, um raro exemplar inglês sem a rainha Elizabeth (a ilustração é de Tasveer Shemza), emissão comemorativa brasileira ao dia do trabalho e série mais recente dos EUA com estrelas do cinema silencioso desenhada por Al Hirschfeld

Em compensação, Libéria, Granada e Guiné Equatorial caprichavam nas cores e no tamanho dos selos (talvez não sobrasse muito espaço para escrever o endereço no envelope). Mongólia e Hungria, por sua vez, poderiam fazer um colecionador desavisado achar que eram potências espaciais, tal a frequência de edições sobre o tema.

Também é provável que eu deva a esse hobby minha insistência em manter as coisas organizadas na vida adulta: pastas no computador, boletos e notas fiscais no arquivo de aço e livros organizados por ordem alfabética nas estantes.

Mas, revendo a coleção hoje para escrever este post, encontrei espaços em branco nos álbuns e vários selos soltos esperando classificação. De repente, veio um alívio em saber que já naquela época aprendi a deixar algumas coisas para depois.


Sobre o desenho

  • Lápis Bruynzeel 8B
  • Lápis Cretacolor Graphite Aquarell 8B
  • Waterbrush Pentel
  • Sketchbook Hahnemühle A4 140 g/m²
  • 25 de junho de 2022

Comentários

2 respostas para “Quem coleciona selos alguma coisa aprende”

  1. Mary Lou Rebelo

    Adorei sua história.
    Eu não colecionava selos, mas os comorava na seção filatélica para colar nas minhas cartas para o exterior. Detesto receber cartas com “selos mecânicos” , ou seja passados na máquina! Fazia questão de ir até o correio central para adquirir selos bonitos e até fiquei amiga da moça que trabalhava nessa seção.
    Quando soube que o correio central tinha fechado (pata reformas?) a primeira coisa que pensei foi: E agora? Onde vou poder comprar os selis bonitos???

    1. Achava que a seção filatélica houvesse sido desativada há muito tempo. Bom saber que ainda está lá. Por um tempo nos anos 80 transferiram ela para um escritório na avenida Hercílio Luz, próximo àquela curva do Clube 12.
      E com certeza correspondência com selos de verdade são mais legais!
      Quando vou postar meu livro pra fora, o pacote leva MUITOS selos, mal cabem em um dos lados do envelope. A pessoa que recebe poderia começar uma coleção.

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