Domingo de verão não é dia de ir à praia. A não ser que você ponha o pé na areia às 7h e saia antes das 10h. Senão, vai ter de aguentar caixa de som, cachorro e muvuca.
Estacionamos o carro faltando pouco para as oito da manhã. As nuvens cinzentas que anunciam chuva abrem espaço para o céu azul. Faz três dias que as temperaturas caíram para uns 25º C, bem abaixo do normal para janeiro.
Os guarda-vidas percorrem a praia fincando bandeirolas vermelhas a cada cinquenta metros. Em alguns locais, colocam até fita de sinalização preta e amarela em frente ao mar, coisa que nunca tinha visto. Verde, que indica mar seguro, só tem uma, que é onde abrimos o guarda-sol.
Os poucos que já estão na praia se tornam personagens: o senhor sozinho de cabelos brancos que treina movimentos de caratê na areia, a mãe com duas ou três meninas no raso com o bodyboard e um casal preparando a prancha do filho adolescente.
Chegam mais banhistas. Ao nosso lado, se instala um casal de uns sessenta anos acompanhado do filho. O pai some para caminhar sem tirar o chapéu nem a camiseta de manga comprida. Se eu seguisse a recomendação da dermatologista, estaria que nem ele. A mãe, de biquini e viseira, fica na cadeira de praia e assiste ao filho sair de prancha e roupa de neoprene para o mar.
Começo a desenhar a mulher. Ela escuta áudios com o celular perpendicular à orelha, não vai nem me notar.
Devo ter demorado, porque o moleque volta da água. A mãe se levanta para ajudá-lo a tirar a roupa de neoprene, mas eu torço para que ela se sente de novo para eu terminar o desenho. Os dois se sentam, ela na cadeira, ele na prancha, e começam a conversar.
Retomo o esboço, que agora inclui o guri, e ela começa a mover os braços como se estivesse nadando. Parece explicar alguma técnica.
Esse foi o momento em que imaginei que a mãe de família, de tronco largo e pernas finas, foi uma pioneira do surf feminino ou uma atleta da natação.
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