Tag: projeto córrego grande

  • De duas casas, sobrou uma

    De duas casas, sobrou uma

    É fácil apontar culpados pelo ano inteiro que se passou entre o desenho de hoje e o anterior. Foi o trabalho que absorveu minhas horas, as férias que não deixaram tempo para nada, o verão da insolação e dos mosquitos, o inverno frio que enrijeceu os dedos, e até a caneta, que anda com a…

  • A quem recorro quando a bicicleta dá problema

    A quem recorro quando a bicicleta dá problema

    Vou andando ao trabalho depois das férias de fim de ano e vejo a bicicletaria do Valdir fechada. Cena improvável. Quem passa pela rua sabe que as dezenas de bicicletas do lado de fora esperando a vez de serem consertadas são uma visão tão certa quanto o muro de pedra onde ficam apoiadas. Era essa…

  • A casa azul, o coqueiro e o gato

    A casa azul, o coqueiro e o gato

    Domingo é domingo, ainda mais de manhã cedo. O final da rua Vera Linhares de Andrade, quase no pé do morro da Lagoa, está vazio. É um trecho onde o asfalto se estreita e a calçada espreme as pessoas. A meia dúzia de casas fica escondida dos carros. De pedestres, só uns poucos moradores e…

  • A penúltima locadora do bairro

    A penúltima locadora do bairro

    Se você quiser ser mais discreto enquanto desenha na calçada, uma tática é se encostar em uma árvore, caixa de energia ou coisa do tipo. Minha escolha foi colocar a banqueta ao lado de um poste. Assim, eu ficaria menos visível aos passantes. Não deu muito certo. Dois frentistas do posto de gasolina vizinho estavam…

  • A psique de um bairro

    A psique de um bairro

    Quase todo bairro mais antigo dessa cidade tem padaria, feira, boteco, farmácia, mercadinho, mecânica de automóveis, centro de saúde e oficina de bicicleta. Há uns dez anos, ainda havia locadora de DVDs. Aqui, o Córrego Grande prova que é um lugar completo ao oferecer todas essas conveniências (menos a locadora). E acrescenta à lista um…

  • Aquela casa das festas com CDs

    Aquela casa das festas com CDs

    Desconheço o interior da maioria das casas que tenho desenhado aqui no bairro. Às vezes, aparece um proprietário para conversar meio por acaso. Mas ainda espero o dia em que alguém vai me convidar para um café e contar a história do imóvel. Como não bato na porta e muito menos peço para entrar nos…

  • Eu poderia estar vendendo bilhete de loteria

    Eu poderia estar vendendo bilhete de loteria

    Estou em pé, encostado na mureta da padaria Maria Farinha, com a prancheta na mão esquerda e a caneta na direita. É junho, mas o sol forte permite sair de camiseta. A minha é amarela. Uma senhora franzina se aproxima puxando um carrinho de feira. “Vai perguntar o que estou fazendo e quem sabe elogiar…

  • Resistência com frutas e terra preta

    Resistência com frutas e terra preta

    O contraste não poderia ser mais evidente. De um lado da rua, o prédio novo, com apartamentos de tamanhos inversamente proporcionais à pretensão do “Studios & Gallery” no nome. Do outro, três pequenas casas – duas de madeira e uma de material – nos fundos de um terreno que pertence à mesma família há mais…

  • Sempre haverá um pneu furado para quem é borracheiro

    Sempre haverá um pneu furado para quem é borracheiro

    — Eu te conheço! Tu é o artista que desenha por aqui. Já te vi antes! — diz o homem que passa por mim pela calçada. Ele fala alto e tem os “s” bem chiados. É verdade: fim de semana passado ele andava pelo posto de gasolina a um quilômetro daqui, mais perto da universidade.…

  • A padaria sob proteção divina

    A padaria sob proteção divina

    Em 2016, o folheto de um novo empreendimento no bairro já mostrava as mudanças planejadas para a entrada do loteamento Jardim Guarani, no Córrego Grande. Na vista aérea montada com 3D e Photoshop, o terreno onde ficam a padaria, a casa cor de salmão e a borracharia virou um inóspito triângulo gramado. Três anos depois,…

  • A cunhada artista

    A cunhada artista

    A calçada de menos de meio metro de largura me força a desenhar em pé, encostado em uma mureta. Não tem espaço para eu sentar no banquinho, que deixei em casa, no porta-malas do carro. Uma senhora passa andando por mim e aproveita o espaço estreito para espiar o que estou fazendo. — Muito bonito…