Tag: caneta ponta fina

  • A leitura que só avança com café

    A leitura que só avança com café

    O senhor escolhe a mesa que está mais perto do café e senta-se de costas para o balcão. Deixa um livro grosso em cima do tampo de pedra, se levanta, faz o pedido e volta só com uma xícara média de café passado. Resistiu ao pão de queijo, à torta chocolasca e à saltenha. Abre…

  • Eu poderia estar vendendo bilhete de loteria

    Eu poderia estar vendendo bilhete de loteria

    Estou em pé, encostado na mureta da padaria Maria Farinha, com a prancheta na mão esquerda e a caneta na direita. É junho, mas o sol forte permite sair de camiseta. A minha é amarela. Uma senhora franzina se aproxima puxando um carrinho de feira. “Vai perguntar o que estou fazendo e quem sabe elogiar…

  • Polêmico, inédito e manuscrito

    Polêmico, inédito e manuscrito

    Na fila do café, uma dúzia de mulheres do congresso de neurologia escolhem o que vão pedir na vitrine cheia de tortas e bolos. No meio das mesas, uma senhora em pé escuta áudio com o celular deitado, como se segurasse uma bandejinha de shoyu encostada no ouvido. Mas o senhor que vem andando já…

  • Palavras ao vento

    Palavras ao vento

    Entrando em Porto de Galinhas, o motorista que nos trouxe de Recife logo recomenda aquelas camisetas de manga comprida com proteção contra os raios ultravioleta que quase todos vestem por aqui, de ambulantes empurrando carrinhos a veranistas em cima de mountain bikes com peças importadas. Chegamos à praia na metade da manhã, em um trecho…

  • E esses marcianos, que não conseguem vencer os cro-magnons?

    E esses marcianos, que não conseguem vencer os cro-magnons?

    Praça de alimentação quase vazia. TV ligada na Copa do Mundo. A legenda no cantinho da tela informa o placar: CRO 0 x MAR 0. Vasculho os países na memória, mas não encontro dois que se encaixem nessas siglas. Descarto Mauritânia porque daí seria “MAU”. Marselha na França e a pequena Maravilha no interior de…

  • Por que levar um travesseiro à universidade?

    Por que levar um travesseiro à universidade?

    Oito da manhã e a praça de alimentação está quase vazia. Na área lateral, só duas mesas ocupadas. Em uma delas, uma estudante de uns vinte anos dorme sentada, com a cabeça e os braços apoiados na mesa. Normal, não fosse por ela estar sobre um travesseiro. “Por que você traz um travesseiro para a…

  • Resistência com frutas e terra preta

    Resistência com frutas e terra preta

    O contraste não poderia ser mais evidente. De um lado da rua, o prédio novo, com apartamentos de tamanhos inversamente proporcionais à pretensão do “Studios & Gallery” no nome. Do outro, três pequenas casas – duas de madeira e uma de material – nos fundos de um terreno que pertence à mesma família há mais…

  • Sempre haverá um pneu furado para quem é borracheiro

    Sempre haverá um pneu furado para quem é borracheiro

    — Eu te conheço! Tu é o artista que desenha por aqui. Já te vi antes! — diz o homem que passa por mim pela calçada. Ele fala alto e tem os “s” bem chiados. É verdade: fim de semana passado ele andava pelo posto de gasolina a um quilômetro daqui, mais perto da universidade.…

  • A vida é mais doce do lado de cá

    A vida é mais doce do lado de cá

    Na seita do empreendedorismo-coach, vagas de emprego são uma “oportunidade” que as empresas oferecem aos candidatos. Esquecem, ou fazem questão de esconder, que sem força de trabalho não existe produto nem serviço. E nem empresa. Essa é mais ou menos a visão que uma longa reportagem reproduzia na TV pendurada na coluna de uma praça…

  • A padaria sob proteção divina

    A padaria sob proteção divina

    Em 2016, o folheto de um novo empreendimento no bairro já mostrava as mudanças planejadas para a entrada do loteamento Jardim Guarani, no Córrego Grande. Na vista aérea montada com 3D e Photoshop, o terreno onde ficam a padaria, a casa cor de salmão e a borracharia virou um inóspito triângulo gramado. Três anos depois,…

  • A cunhada artista

    A cunhada artista

    A calçada de menos de meio metro de largura me força a desenhar em pé, encostado em uma mureta. Não tem espaço para eu sentar no banquinho, que deixei em casa, no porta-malas do carro. Uma senhora passa andando por mim e aproveita o espaço estreito para espiar o que estou fazendo. — Muito bonito…