Pintura digital do personagem conde Orlok, do filme Nosferatu

Nosferatu (o filme) completa um século

Faz cem anos que a alta sociedade de Berlim recebeu convites para uma festa no grande salão do Jardim Zoológico, em 4 de março de 1922. Exigia-se que os convidados fossem vestidos com roupas da nobreza do início do século 19.

A razão do evento não era surpresa. Na véspera, os produtores do filme Nosferatu pagaram por um farto material publicitário que incluía sinopse, fotografias, relatos da produção e até um tratado sobre vampirismo. O marketing cinematográfico da época não devia nada ao de hoje, inclusive na exorbitância: a festa sozinha custou mais que o orçamento do filme.

Nosferatu entraria nos cinemas alemães dez dias depois com êxito, mas em seguida a produtora sofreu um processo por plágio de Drácula e teve de destruir as cópias. Começaria aí uma jornada que vitimizou grande parte dos filmes antigos: sumiço de negativos, supressão de cenas e inúmeras versões montadas e remontadas em vários países.

Versões

A sobrevivência da obra até os dias de hoje, ainda que não exista certeza de qual versão aqueles primeiros espectadores viram, é uma improbabilidade e diz muito sobre o impacto que o filme causa nas pessoas.

Como terror, não chega a assustar. Assistir à produção, porém, é mergulhar na mentalidade da produção artística europeia de cem anos atrás, às voltas com as experimentações do Expressionismo Alemão, reprimidas pelo nazismo anos depois.

É também se deleitar com o uso de sombras, cenários estilizados, truques de câmera e, principalmente, com a caracterização do conde Orlok, com seus dentes compridos frontais parecendo mais um roedor que um morcego.

A gramática dos filmes de terror ainda estava sendo formada. Minha cena preferida, do conde andando na rua com o caixão debaixo do braço, dificilmente seria repetida em outras produções. Mas permanece como meu filme de vampiro preferido.

Dessa obra sairia Nosferatu: O Vampiro da Noite, uma ótima refilmagem dirigida por Werner Herzog em 1979, e A sombra do vampiro, que imagina se o ator Max Schreck, que faz o conde Orlok, fosse de fato um ser sobrenatural.

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Comentários

2 respostas para “Nosferatu (o filme) completa um século”

  1. Fabricio C. Boppré

    Seu Drácula favorito está bem posicionado aqui neste ranking das 20 melhores interpretações do personagem: https://www.theguardian.com/film/2022/mar/03/count-draculas-on-film-ranked

    Adoro Schreck e Lee, mas para mim Bela Lugosi é imbatível!

    PS: Linda ilustração no alto do post.

    1. Segundo lugar! E Klaus Kinski na refilmagem em quarto. Acredita que ainda não assisti à versão com Bela Lugosi? Vou correr atrás!

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