Dia chuvoso em início de mês não é a melhor hora para ir a uma agência da Caixa. Mas tenho pressa, não vim a lazer e é minha segunda visita.
Uma folha de papel cobre a tela do terminal onde se imprime a senha de espera. Deveria ser de autoatendimento, mas eu e outras quatro pessoas estamos parados em fila até que a funcionária encarregada de operá-lo apareça de dentro da agência. Imagino que o senhor de muleta ao meu lado apoiado na parede deve estar bem mais impaciente.
Aqui, do lado de fora da porta giratória, uma outra bancária faz três coisas ao mesmo tempo: ajuda um correntista cego, explica a uma menina como bloquear seu cartão extraviado e ainda dá instruções um casal que anota todos os passos e senhas em uma cadernetinha em espiral. Um vendedor de Trimania fica na entrada para não se molhar.
Serviços ao cidadão
Além de ser um banco público, a Caixa, como se sabe, é o canal por onde o cidadão acessa a uma série de serviços e direitos: cadastra CPF, recebe auxílios, contrata empréstimos habitacionais e administra seu FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
E é por causa desse FGTS que vim aqui. Ou melhor, pela ausência de mil reais que, descubro, foram sacados em uma lotérica em Tocantins, cidade onde nunca estive. Golpe, claro.
Antes que você ache que dei mole, sugiro que tire um extrato do seu fundo. Comentei o ocorrido no trabalho e na piscina e apareceram outros seis que, como eu, nem desconfiavam que haviam sido roubados.
App de celular
Segundo a imprensa, a fraude é feita através da conta digital criada para receber o saque extraordinário. Essa conta, disponível para todo mundo que tem dinheiro no FGTS, é acessada por um aplicativo de celular, o Caixa Tem, que exige só CPF, data de nascimento, nome e CEP.
Como escreveria Elio Gaspari, ganha um cofrinho do Poupançudo cheio de moedas de um centavo quem adivinhar o quão difícil é conseguir esses dados de qualquer brasileiro.
Assim, eu e outras pessoas que ignoramos a existência do saque extraordinário tivemos mil reais retirados por golpistas que se cadastraram no app antes que nós.
Caminho aberto
Até eu, que não sou especialista em cibersegurança , sei o risco de lançar um aplicativo bancário acessível tão facilmente. Uma decisão dessas tem cheiro de critérios políticos atropelando requisitos técnicos.
O presidente da Caixa, por exemplo, tem se vangloriado do Caixa Tem ser a maior ação de bancarização da história brasileira.
Poderia se gabar também de ter criado o maior programa de transferência de renda do país – da conta do trabalhador direto pro bolso do bandido.
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