Desenho a traço em duas cores mostrando autor na mesa escrevendo no computador, com pilhas de livros dos dois lados da mesa e em cima da estante

Tome posse do seu conteúdo. Abra um blog

No início dos anos 2000, quem tinha algo a dizer na internet, escrevia um blog.

Hoje, com tantas opções à disposição, é fácil esquecer do impacto que foi o surgimento de serviços como Blogger, LiveJournal e afins. De repente, qualquer um podia criar um site e, mais importante, mantê-lo atualizado. Não era preciso saber programar, tratar imagens, transferir arquivos para o servidor e nem pagar por hospedagem.

O pessoal tratava a plataforma como um diário aberto, sem preocupação com seguidores, likes ou monetização. Quando muito, instalava-se a caixa de comentários e um contador de visitas rudimentar.

Atrasado na festa

Na verdade, escrevo tudo isso da boca para a fora porque, admito, nunca tive um blog. Ou, melhor, agora tenho: abri este aqui há exatamente um ano. Instalei o WordPress, transferi parte do conteúdo do site antigo e, para minha surpresa, venho publicando quase dois posts por semana.

Mas por que insistir, com vinte anos de atraso, em um formato que muita gente já abandonou?

Preso na plataforma

As minhas razões para adotar um blog têm a ver com o cansaço de Facebook e Instagram. Essas redes sociais tratam seu conteúdo como um refém em rebelião de presídio: você não tem controle nenhum do que acontece lá dentro e tirar seu arquivo de lá é trabalho de especialistas.

Eu desconheço os cálculos de exibição de postagens, não sei quanto tempo uma imagem tem de ficar na tela para contar como uma visualização e já percebi que, depois de um par de semanas, as postagens ficam soterradas na timeline (de maneiras diferentes, Instagram e Facebook dificultam a pesquisa no perfil de uma conta).

E, convenhamos, depois de um tempo, aparece a pergunta: quem se beneficia do nosso trabalho não remunerado? Você, com os likes e adições de perfis diminuindo a cada mês, ou as empresas, que usam a atividade dos usuários para faturar com anúncios?

Criar é melhor que organizar

Dependendo da época, o foco dos meus sites anteriores era o portfolio de pintura, ilustração ou caligrafia. Depois de deixar as galerias desatualizadas por anos, vi que escrever no feed de notícias me animava mais.

Então, achei melhor ter um fluxo de posts que reflita seja lá o que eu esteja fazendo agora (ou vá fazer daqui a cinco, dez ou vinte anos). Uma vantagem do blog é que o conteúdo fica aberto, organizado por tags e indexado pelos serviços de busca.

O arquivo é seu

Depois que comecei a incluir pequenos textos no Instagram dando o contexto por trás dos desenhos – e publiquei um livro com uma parte dessa produção – me dei conta da importância de guardar esse material. E tenho contatos no Instagram e Facebook que escrevem coisas que mereciam um registro mais permanente.

Antes, eu copiava todas as postagens em um documento no Google Docs. Hoje, escrevo no WordPress sabendo que estão salvas e podem ser exportadas. Por ser a plataforma mais usada no mundo, é maior a chance de haver uma ferramenta de transferência caso resolva migrar para outro sistema – lição que aprendi ao ter de copiar e colar manualmente uma centena de textos quando desinstalei a versão anterior do meu site.

A teoria por trás da prática

Escrever com frequência faz a gente escrever melhor. E com mais responsabilidade também porque, diferente de uma rede social restrita aos seus usuários, o que se publica fica na internet para qualquer um ler.

Nem tudo são vantagens, porém. É provável que você não atinja a mesma quantidade de visualizações que teria nas redes sociais. Mas eu acredito que alguém que acessa um blog o faz com mais atenção que um usuário de Instagram rolando o feed a duas imagens por segundo.

Dicas finais

Se empolgou e quer abrir ou ressuscitar um blog? O WordPress, ainda que muita gente reclame, é uma plataforma estável, bem difundida e que serve muito bem para isso.

Eu assino um plano específico para o WordPress em uma empresa de hospedagem. Eles instalam o sistema, mas o gerenciamento é responsabilidade do cliente, incluindo algumas configurações.

Um caminho mais simples são os planos disponíveis em WordPress.com, oferecidos por uma empresa chamada Automattic (que também é dona do Tumblr). Eles diminuíram a complexidade de gerenciar o WordPress e oferecem cinco opções de planos, incluindo um gratuito que exibe anúncios.

Nos dois casos, você escreve as atualizações pelo navegador ou com o app oficial, que tem versões para computador e celular. Já escrevi muitos posts em salas de espera ou no sofá da sala. O app permite também seguir outros blogs, inclusive aqueles que usam sistemas diferentes.


  • iPad
  • Apple Pencil
  • Aplicativo Procreate

Comentários

10 respostas para “Tome posse do seu conteúdo. Abra um blog”

  1. Que bom que agora tem comentários. Fiquei preocupado com o sumiço de outras redes, mas esse post me conforta bastante. Muito bacana seu post, bem necessário. Eu gosto de lembrar as pessoas que não existe somente o WordPress que faz blogs, existem muitos outros inclusive mais fáceis. Mas como tudo na vida, exige uma certa curva de aprendizado e algum conhecimentinho (ou pagar uma cerveja um amigo que faz).

    Eu assino o blog pelo RSS, acho muito prático e recebo os conteúdos assim que são publicados.

    Abração!

    1. Daí, Baderna! 🙂 Lembro daquela conversa que tivemos sobre qual CMS era o mais indicado. Contra sua recomendação, adotei o WordPress porque pela popularidade, qualquer outro sistema que apareça vai ter de oferecer uma ferramenta para importar os posts do WP. Aqueles que você indicou realmente são simples, mas no meu caso a empresa de hospedagem já oferecer o WP instalado falou mais alto.

  2. Zulma Borges

    Parabéns, Ivan! Você é sempre uma inspiração para todos!

    1. Obrigado, Zulma! E você para nós também.

  3. Gastão Cassel

    Perfeito, Ivan!
    É exatamente isso. Quem publica só nas redes não tem controle, nem posse, nem propriedade sobre o SEU conteúdo. Aliás ele pode desaparece de um dia para o outro. Ou há notícia de alguém que fez becape do Orkut? E, claro, trabalha-se de graça para os donos das redes que, com o seu conteúdo, fixam audiência que lhes rende dinheiro.
    Recomendo (e as vezes preciso falar alto) para meus clientes que tenham seu site ou blog próprios. Por tudo isso e algumas coisas a mais.
    Longa vida aos blogs!!!

    1. Fui me tocar disso só ano passado quando me vi salvando os textos que eu publicava no Instagram em um documento no computador. Pensei: “Por que estou fazendo isso?” e vi que, se eu quisesse que aquele conteúdo continuasse circulando, deveria eu mesmo ser dono dele. Longa vida aos blogs, portanto!

  4. Ivan, esse teu post me emocionou! Eu sempre gostei de ti, um cara culto, educado e extremamente gente boa. Mas agora vc foi longe! Me fez lembrar que blogs e emails foram as melhores coisas que a internet produziu. E como era bacana criar conteúdo para eles. E como essa maldita velocidade das redes sociais tiraram esse barato e fizeram tudo virar bosta, como dizia a Rita Lee. Pra fazer um blog legal vc tinha que pesquisar, pensar, isso tudo, por mais rústico que fosse, criava conteúdos interessantes, e não “posts lacradores”. E, claro: teu argumento sobre a posse do teu conteúdo, a organização e tudo mais é muito bom! Não sei se vou conseguir seguir teu exemplo, mas vou considerar seriamente! Bravo, meu amigo!!!!!

    1. Obrigado pelo comentário, Simon! Esse post meio que materializou algumas coisas que eu andava sentindo ultimamente, principalmente da maneira como nosso tempo é capturado pelas redes sociais com quase nada em retorno – ainda que haja coisas positivas, principalmente a possibilidade de manter contato com amigas e amigos. Mas para quem capricha no conteúdo, é uma pena ver tudo desaparecer dias depois naquela inundação de postagens que são as timelines misturadas. Eu, pessoalmente, estou curtindo esse ato de escrever regularmente, ainda que não tenha muitos leitores. E tu, chegou a pegar a época dos blogs?

  5. Kevin Areas

    Só queria dizer que seu conteúdo é muito inspirador e me identifico bastante! Na busca de blogs artísticos e sobre urban sketch eu encontrei o seu no inicio da pandemia e continuo acompanhando. Não fiz parte da época de ouro dos blogs mas foi exatamente esse sentimento de cansaço do conteúdo das redes sociais que me fez encontrar o seu blog. Ainda não tomei iniciativa de criar um também, mas penso bastante sobre isso. Enfim, continue escrevendo que continuarei acompanhando!

    1. Oi, Kevin! Obrigado pelo comentário. Esse meu artigo sobre redes sociais estava entalado na garganta faz tempo, foi até rápido escrever o primeiro esboço. Seria muito bom se as pessoas adotassem redes abertas e descentralizadas. Para mim, vejo uma escrita mais ponderada e uma interação de melhor qualidade. Quando criar seu próprio espaço, seja um blog, seja uma conta no Mastodon, me avise! Abraços

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