Como foi ilustrar o livro “Do tamanho do mundo”

Ideias começam no caderno e saem impressas no livro

Pelo telefone, o escritor e editor Dennis Radünz conta que está produzindo um livro e me pergunta se eu gostaria de ilustrar a capa. A obra chama-se Do tamanho do mundo, estreia na ficção de Leandro Belinaso, biólogo pela USP com doutorado em Educação pela UFRGS.

Radünz conta que pensou no desenho de um pontilhão, elemento importante na história.

— Claro — respondo. — Vou fazer alguns estudos e depois trocamos mais ideias.

Não pergunto detalhes para não parecer ignorante, mas deve ser a primeira vez que escuto a palavra “pontilhão”. Me soa como um nome de peça de trilho de trem. Apesar da terminação “ão”, trata-se um diminutivo: significa “ponte pequena”.

Processo imprevisível

Durante a leitura do original, costumo fazer anotações e esboços em um caderno para registrar minhas primeiras impressões. Em seguida, vou desdobrando os desenhos enquanto releio as passagens que sugerem alguma solução visual.

Combino com Radünz de guardar também os esboços e versões alternativas durante o processo de criação. Eventualmente, podem ser aproveitados.

O tira-linhas de caligrafia é minha escolha de instrumento. É o mesmo que usei para o livro El Cuerpo há dois anos. Dependendo da posição e velocidade, as bordas fazem a tinta espirrar, o traço fica irregular e pode-se alterar a espessura da linha.

Fiz 27 desenhos e escolho sete. Destes, quatro vão para o miolo. O quinto, na capa, que mostra o pontilhão metamorfoseado em um cão, é uma ideia que atravessou o processo. Percebi, enquanto arte-finalizava uma das ilustrações, que a forma se parecia com um cachorro, personagem que surge logo no início da obra.

Foto do livro “Do tamanho do mundo”, de Leandro Belinaso. O volume está deitado, com a capa para cima. Traz o desenho de uma ponte com cara e rabo, como se fosse um cachorro

Mudanças

Belinaso escreve do ponto de vista de uma criança que enfrenta a mudança para um apartamento, saindo da casa onde morava em outra cidade.

Percebemos pela linguagem simples do personagem que sua compreensão do que está ocorrendo é limitada. Nós, por outro lado, conseguimos deduzir. O guri não tira conclusões, mas é observador. Como quando seu tio vai ao hospital:

Ele estava em um lugar bem intenso do hospital. E quando a gente fica num lugar bem intenso dentro de um hospital não pode receber muita visita

Serviço

  • Do tamanho do mundo
  • Romance de Leandro Belinaso
  • Ilustrações: Ivan Jerônimo
  • Apresentação: Flávio Carneiro
  • Edição: Dennis Radünz
  • Planejamento gráfico: Ayrton Cruz
  • 96 páginas
  • 16 x 23 cm
  • Editora Nave, 2021

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