Acho difícil, quase impossível, dormir no assento da classe econômica de um voo doméstico. Quando muito, dou cochilos curtos. Até na sala de espera da Caixa e no banco de plástico duro do transporte municipal daqui de Florianópolis tive sonos melhores.
Tento me distrair com música ou algo para ler. E, quando as condições permitem, desenho.
Para rabiscar algo no papel, primeiro é preciso haver luz, e melhor que seja a do Sol. À noite, servem as da cabine.
Segundo: convém que seu vizinho de poltrona não fique com o nariz no seu caderno. Pode parecer difícil no espaço apertado, mas é bem provável que a pessoa esteja entretida com o celular e nem dê atenção a outra coisa.
Por fim, convém que o modelo vivo involuntário não se dê conta de que está sendo desenhado.
Foi o caso do passageiro dois assentos à frente, do lado oposto do corredor. Sem conseguir apoiar a cabeça no encosto, dobrou um pedaço de pano que encaixou no revisteiro de plástico rígido, em cima da mesinha recolhida. E dormiu assim, com a testa apoiada no trapo.
Vendo-o desse jeito, parece o retrato do desespero, mas tenho certeza de que passou as três horas de viagem melhor que eu. Nem as duas zonas de turbulência que interromperam a distribuição de água, café e cookie o acordaram.
Por falar nas turbulências, lembrei da terceira condição para desenhar dentro de um avião: estabilidade. Não há traço que saia reto com a cabine tremendo.
Sobre o desenho
- Caneta tinteiro Jinhao x750 com ponta dobrada (fude nib)
- Tinta Koh-I-Noor Document Ink preta
- Caderno Canson Art Book One A5
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