Foto de parede da exposição com quadros da série de caligrafias

Arnaldo Antunes: poeta, compositor e também calígrafo

Palavra em Movimento, exposição de Arnaldo Antunes no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), foi prorrogada até 3 de setembro. É a oportunidade de ver a produção dos últimos trinta anos do músico, poeta e artista visual reunidas numa só mostra. O conjunto deixa evidente pontos em comum de sua trajetória. O principal é o código verbal como ponto de partida, conforme ele mesmo explica em entrevistas anteriores.

São as experimentações com o texto que aproximam o trabalho de Antunes da caligrafia e do design gráfico – disciplinas que também lidam com as letras como componente visual. A influência da concretismo, movimento nos quais a forma visual é parte do poema, também sempre foi visível em seus livros e letras de música.

Traços expressivos

A série Caligrafias traz monotipias feitas entre 1998 e 2003 com tinta de carimbo. A técnica da monotipia consiste em aplicar tinta a uma placa de vidro ou plástico e imprimi-la em papel, obtendo-se uma cópia única. Além de usar folhas de quase um metro de comprimento, o artista teve de fazer o texto espelhado para que saísse corretamente na impressão. “Tinha que escrever invertido para sair a leitura do lado certo. Até que descobri que escrevia invertido mais fácil com a mão esquerda, aí incorporava o tremor da mão na própria expressividade do braço”, conta ele em entrevista ao jornal Notícias do Dia.

Parede com três obras da série Caligrafias
Abstração e brincadeiras com palavras são duas vertentes da série Caligrafias

Por não se prenderem a estilos históricos, as 18 gravuras podem ser classificados como caligrafia contemporânea ou experimental. Algumas são praticamente composições abstratas, em outras se identificam palavras. A escrita cursiva se mistura com letras de forma. A poesia concreta às vezes é retomada quando o artista altera as letras de acordo com o que está escrito. São trabalhos de quem já se declarou fascinado pela caligrafia e que se utiliza dessa forma de arte há algum tempo. A série Oráculo, de 1981, também incluída na mostra, já incluía a escrita manual nos recortes.

Colagens em exposição
Mistura de códigos nas colagens das série Oráculo, trabalhos mais antigos da exposição Letras urbanas

Letras urbanas

Ambiente com telas exibindo fotos de letras em placas e sinais urbanos
Letras na paisagem urbana são reorganizadas na instalação O Interno Exterior

Outra área de pesquisa do autor são os escritos na paisagem urbana, refletida na instalação O Interno Exterior, de 2014, obra mais recente da exposição. Em uma sala escura, monitores de vídeo alternam fotografias de mensagens publicitárias e de sinalização de rua. As letras e palavras às vezes formam frases ou permitem novas interpretações pela contraposição. Para coletar material, Antunes provavelmente deve ter se dedicado a uma prática chamada type hunting, popular entre designers gráficos, que fotografam as mensagens textuais dispostas pelas cidades. Diferente deles, que caçam espécimes tipográficos raros ou característicos, Arnaldo Antunes confronta mensagens para montar novos significados.

Obra tridimensional com a palavra “transpir” e “ante” refletida em vidros
Iluminação cria sombras que parecem fazer parte da obra

A iluminação do espaço valoriza principalmente as obras tridimensionais, em que palavras são desmontadas, reorganizadas e parecem ganhar novas leituras nas sombras projetadas nas paredes e pisos.


Serviço

Exposição Palavra em Movimento – Arnaldo Antunes

25 de maio a 3 de setembro, de terça-feira a domingo, das 10h às 20h
Museu de Arte de Santa Catarina (Masc) – Centro Integrado de Cultura (CIC)
Av. Governador Irineu Bornhausen, 5600 – Agronômica – Florianópolis, SC
Entrada gratuita
Mais informações: (48) 3664-2630

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